quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Coordenadora do CRR da UFPel-RS, professora Beatriz Franchini, participa da certificação dos profissionais do CRR-IFPB


 Entrevista a Crisvalter Medeiros

A professora Beatriz Franchini, coordenadora do Centro Regional de Referência para a Formação Permanente dos Profissionais da Rede de Atenção aos Usuários de Crack e outras Drogas, da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul-UFPel, participou da solenidade de certificação dos profissionais que concluíram os cursos oferecidos pelo CRR-IFPB, no último sábado (10), em João Pessoa. Em entrevista, a professora Beatriz Franchini, comentou sobre o plano de enfrentamento ao crack e outras drogas e enfatizou a importância dos Centros Regionais de Referência, no contexto das políticas sobre drogas.

“... a gente tem que ter esperança e não podemos tratar o usuário de drogas como uma pessoa sem possibilidades, nós temos o dever de apoiar essas pessoas”. Beatriz Franchini


P. Qual a sua expectativa com os Centros Regionais de Referência ?

R. Eu acredito nesse projeto, é tanto que a nossa Universidade tem se empenhado em executá-lo, só estou preocupada com a continuidade dele. Acredito que com o lançamento da 2ª edição do plano de enfrentamento ao crack essa continuidade já está garantida. O projeto vai ao encontro das necessidades que os profissionais tem de conhecer um pouco mais sobre a dependência química, porque há em torno deste tema muita mistificação. Os usuários de drogas são vistos como criminosos, marginais; uma pessoa prestes a cometer algum delito e isto afasta a sociedade e os profissionais também acabam se afastando deles. No Rio Grande do Sul os usuários de drogas não conseguem acessar os serviços de saúde. Portanto, as capacitações realizadas pelos centros regionais de referência permitem formar pessoas para dar algum suporte aos usuários e seus familiares. O projeto é muito positivo, temos que dar continuidade e, cada vez mais, tentar abranger um maior número de pessoas.

P. Como você analisa os cursos oferecidos nessa primeira versão dos CRRs, ou seja, cursos só para médicos, para psicólogos e assistentes sociais e para redutores de danos e outros agentes sociais?

R.  A visão de oferecer um curso separado só para médicos foi de alcançar esse segmento que se via distante do problema das drogas. Os cursos contemplam as áreas mais frágeis, a exemplo da médica e dos trabalhadores em hospitais gerais. Depois da reforma psiquiátrica é preferível que os usuários sejam atendidos em hospitais gerais e há uma carência muito grande de mão de obra especializada nesta área para receber os usuários. Um grande avanço foi contemplar a rede de atenção básica da saúde e a rede de assistência social. Eu acho que na verdade, os cursos suprem muitas carências de formação e democratizam o conhecimento, portanto, a fragmentação foi para atender profissionais de outros meios e não apenas em hospitais psiquiátricos, o que possibilita a intervenção do usuário em liberdade.

P. Qual a sua expectativa com a segunda edição do plano de enfrentamento ao crack e outras drogas?

R. Eu acho que houve alguns avanços, gostei muito do slogan do plano que é “Conte com a gente”, é bem acolhedor e que abre as portas para os usuários de drogas. Por outro lado, o plano vai financiar as comunidades terapêuticas que foi um dispositivo fortemente rechaçado na conferência de saúde mental. Pensando dessa maneira, o país inteiro recusou essa modalidade de tratamento e agora o governo vai financiá-la, isso para nós da saúde é um retrocesso que está embasado em influências político-partidárias que estão forçando o financiamento desses dispositivos com recursos públicos.

P. Você se refere às questões mais polêmicas do plano que são as internações compulsórias e o financiamento de comunidades terapêuticas?

R. As internações compulsórias são sustentadas pelo pânico social que a mídia criou, e continua criando, em torno do crack com várias reportagens que apoiam os interesses econômicos específicos de algumas áreas privadas que vão receber muito dinheiro com esse dispositivo do plano de enfrentamento ao crack. Entretanto, essas internações compulsórias já estavam acontecendo através de ordem judicial. Acho que é um grande retrocesso para um país democrático que já fez a reforma  sanitária e está há mais de 20 anos da reforma psiquiátrica. É um grande retrocesso, mas nós temos que nos organizar para tentar demonstrar isso à sociedade.

P. Você acha que houve ingerência política na elaboração do plano?

R. Na verdade são interesses políticos e econômicos. A reforma psiquiátrica foi feita para acabar com esse tipo de internação. Por outro lado, vem essa questão do crack que novamente vai dar uma abertura para as internações em locais fechados, quando já está mais que comprovado de que o isolamento não ajuda a ninguém.

P. Isso talvez faça voltar a visão moral sobre os usuários de drogas...

R. Certamente, a visão moral e a higienista que são estigmatizantes.

P. O que poderá acontecer?

R. Haverá muitas manifestações contrárias às internações compulsórias e o tempo vai continuar mostrando que esse método é ineficaz. Se a pessoa é um dependente químico ela deverá ser motivada a aceitar o tratamento e de forma compulsória isso não acontece nunca.

P. Esse parece ser o caminho mais fácil...

R. Mais fácil para quem não quer ver a realidade.

P. Priorizar o crack parece ser uma inversão, não é o álcool que ainda causa os maiores problemas?

R. Exatamente, o álcool e o tabaco lideram os problemas que causam mais internações e gastos na área da saúde. O crack tem uma representatividade íntima, mas ele tem sido usado pela mídia para causar pânico na sociedade como se fosse uma coisa nova. Mas isso não é novo, é uma situação antiga e que chegou à contemporaneidade, é bom lembrar que nunca houve sociedade sem drogas. Ninguém sobrevive sem drogas, lá no sul nós tomamos chimarrão, em outras regiões se toma muito café, cerveja, álcool; outros tomam medicamentos para dormir. Nós temos que aprender a conviver com as drogas e buscar reduzir ao máximo os danos à saúde e promover a qualidade de vida dos usuários. É impossível erradicar as drogas, o ser humano não consegue viver a realidade sem ficar muito tempo sem fugir um pouco dela.

P. Voltando um pouco aos Centros Regionais de Referência, o que você acha da regionalização dessa política?

R. Foi ótimo. A política de financiamento deixou de ser centralizada permitindo que pessoas de outras regiões interioranas participem. Muitas vezes as pessoas não tem condições de se deslocar para um grande centro em busca de solução para o problema e com a descentralização do financiamento o acesso foi democratizado.  Nosso papel é informar e fazer intervenções para que as pessoas e os profissionais desmistifiquem essa questão das drogas, consigam acolher os usuários sem pressões pela abstinência ou cessação de uso, o que só afasta os usuários dos serviços e traz frustrações tanto para eles como para os profissionais.

P. Qual o papel da mídia nessa área?

R. A mídia tem disseminado o pânico como se as drogas fossem as únicas causadoras dos problemas da sociedade e nós sabemos que isso não é verdade. O crack tem sido usado como bode expiatório nesse momento. As famílias entram em pânico achando que são incapazes de ajudar os seus usuários pensando que só a internação ou a prisão são as únicas saídas. As famílias não se identificam como recurso para apoiar os seus usuários, os profissionais acabam por se afastar também e nós sabemos que tudo o que eles mais precisam é desse apoio, da nossa escuta

P. Como você vê as intervenções alternativas, a exemplo dos grupos de mútua-ajuda?

R. Eu acho excelente. Nós temos que oferecer um cardápio de opções aos usuários. Algumas pessoas só vão ficar bem com a abstinência total, outras nunca vão conseguir essa abstinência, e ainda outras vão se apoiar na religião; há também quem encontre apoio nos esportes, na música, no lazer. Seria bom que todos conseguissem parar, só que essa não é a nossa realidade. Portanto, a gente também tem que lidar com aqueles que não conseguem parar tentando incluí-los em outras linhas de atuação.

P. Você é otimista com relação à recuperação da dependência química?

R. Se eu não fosse otimista não estaria mais trabalhando nessa área. Nós temos que passar a visão para as pessoas de que nós não devemos desistir dos dependentes químicos. O que me preocupa são os slogans imediatistas, a exemplo de “Crack nem Pensar”. Isso me preocupa muito, porque passa a imagem de que o usuário de drogas não tem mais chances na vida. A gente não pode investir nessa concepção de que uma vez usuário de crack a pessoa vai morrer, vai desestabilizar toda a família, vai acabar com a vida de todo mundo. Não é assim, a gente tem que ter esperança e não podemos tratar o usuário de drogas como uma pessoa sem possibilidades, nós temos o dever de apoiar essas pessoas.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

CRR-IFPB CERTIFICA PROFISSIONAIS NA ÁREA DE CRACK E OUTRAS DROGAS


Vídeo sobre a solenidade de certificação dos cursos do CRR-IFPB


O Centro Regional de Referência para Formação Permanente de Profissionais da Rede de Atenção a Usuários de Crack e outras Drogas (CRR-IFPB) certificou os primeiros 300 profissionais da Rede SUS (Sistema Único de Saúde) e SUAS (Sistema Único de Assistência Social) da Paraíba. Esses trabalhadores vão contribuir para minimizar os sofrimentos dos usuários de drogas e seus familiares no Estado.

A solenidade de certificação, que aconteceu no último sábado (10), no Hotel Nutanah, na Praia do Cabo Branco, teve início com a apresentação de uma dinâmica sobre a vida real das marisqueiras do município de Bayeux, que fazem parte do projeto “Mulheres Mil”, do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB). A apresentação foi conduzida pela professora Eudna Babosa (Baby).

A mesa de abertura da solenidade foi composta pela Coordenadora de Saúde Mental do Município de João Pessoa, psicóloga Valéria Cristina; a Assistente Social Luciana Leal, representando a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Humano (SEDH), a enfermeira Maria Clarice Pires, representando a Coordenação de Saúde Mental da Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba; a contadora Fernanda Maia, representando a FUNETEC; além de alguns professores da rede interinstitucional de apoio ao CRR-IFPB.

O CRR-IFPB, coordenado pela professora Vania Medeiros, realizou em 2011 quatro cursos na área de crack e outras drogas: Curso de Aperfeiçoamento para os médicos do PSF (Programa Saúde da Família) e NASF (Núcleo de Atenção à Saúde da Família) e o Curso de Atualização em Atenção Integral para servidores de Hospitais Gerais. E mais dois cursos: Atualização sobre Intervenção Breve e Aconselhamento Motivacional para Agentes Comunitários de Saúde, Redutores de Danos e outros Agentes Sociais e o Curso de Atualização em Gerenciamento de Casos e Reinserção Social de Usuários de Crack e outras Drogas para Profissionais das Redes SUS e SUAS.

Os referidos cursos foram ministrados por uma equipe interinstitucional de profissionais da Paraíba e dos Estados do Centro/Sul do País. O CRR-IFPB Também contou com a colaboração de professores de Universidades que são consideradas centros de excelência na produção acadêmica sobre drogas, a exemplo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Federal de São Paulo, Universidade de Brasília e Católica de Brasília, além de docentes das Universidades Federais da Paraíba e do Rio Grande do Norte.

Segundo a professora Vania Medeiros, para a certificação dos profissionais que foram capacitados pelo CRR-IFPB, neste ano de 2011, foi sugerida a elaboração de um plano integrado de ações interventivas sobre casos  registrados na Rede de Atenção aos Usuários de Crack e outras Drogas, com a formação de grupos intersetoriais  e interprofissionais, integrando a saúde básica, saúde mental,  consultório de rua, assistência social, educação e comunidade.

Ela acrescentou que a turma composta por mais de 300 profissionais apresentou, na cerimônia de abertura, dezesseis planos de ações integradas para casos particulares envolvendo usuários de drogas, seus familiares e a comunidade. “Esta prática possibilitou não somente a elaboração de planos, mas a execução de ações em tempo real com o foco na integralidade do sujeito atendido e na articulação de uma rede de apoio interinstitucional e interpessoal”, assinalou a professora. 

Segundo ela, o exercício desta prática vai reforçar a mudança de paradigma e de posturas profissionais adotadas na atenção aos usuários de drogas, superando a apropriação dos casos e a intervenção setorializada que limitam a eficácia das ações.

Com a finalização  destes primeiros cursos pelo CRR-IFPB, por determinação das políticas públicas nacionais e com o apoio dos governos municipais  e estadual, cumprimos a nossa parte na área educacional, enfatizou a professora Vania Medeiros.          

“A partir de agora, cabe à população acompanhar a expansão da rede de serviços e se mobilizar politicamente para reivindicar a efetivação da aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos por estes profissionais na intervenção qualificada da atenção aos usuários de drogas; quanto aos profissionais, eles devem continuar exigente uma capacitação continuada para se atualizarem constantemente na área das drogas”, exortou a professora.

sábado, 12 de novembro de 2011

JORNALISTA CRISVALTER MEDEIROS FOI ENTREVISTADO PELO PESQUISADOR AMERICANO WILLIAM WHITE, SOBRE O ESTADO DA RECUPERAÇÃO NO BRASIL

 William (Bill) White: pesquisador, escritor e advocate da recuperação 
O Faces & Voices of Recovery (Caras e Vozes da Recuperação), uma organização sem fins lucrativos que atua na área da articulação dos direitos dos dependentes químicos à recuperação, nos Estados Unidos, publicou uma entrevista com o jornalista paraibano Crisvalter Medeiros, sobre o estado atual da recuperação de dependentes químicos no Brasil. A entrevista pode ser lida no endereço:
O jorrnalista Crisvalter Medeiros, que atualmente integra o Núcleo de Estudos Transdisciplinares em Dependência Química (NETDEQ), do IFPB, e o Centro Regional de Referência para Formação Permanente de Profissionais na Área de Drogas, em João Pessoa, órgão ligado à Secretária Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), do Ministério da Justiça, vem desenvolvendo um trabalho de prevenção e ativismo social na educação em prol da recuperação de dependentes químicos há 17 anos, período em que entrou em recuperação da dependência de álcool e tabaco.

A entrevista ao jornalista Crisvalter Medeiros foi feita pelo renomado escritor e mestre em dependência química William (Bill) White que é pesquisador e consultor do Chestnut Health Systems / Lighthouse Institute. Bill White, como é conhecido nos Estados Unidos, tem prestado serviços como consultor voluntário para Caras e Vozes da Recuperação www.facesandvoicesofrecovery.org/ desde a sua criação no início do ano 2000. Ele publica nessa área desde 1969, sendo autor e co-autor de mais de 350 artigos e monografias e quinze livros, incluindo Slaying the Dragon:  The History of Addiction Treatment and Recovery in America and Let’s Go Make Some History:  Chronicles of the New Addiction Recovery Advocacy Movement.

O jornalista paraibano, que também vem estudando sobre a recuperação da dependência química, há vários anos, descobriu o site do pesquisador americano na internet  www.williamwhitepapers.com/ , adquiriu alguns dos seus livros e, a partir de então, teve início uma comunicação via online entre os dois. Descobrindo o interesse e o envolvimento do paraibano pela recuperação da dependência química, Bill White resolveu entrevistá-lo sobre o atual processo da recuperação no Brasil. A entrevista foi publicada na coluna intitulada Recovery Advocacy Around the World Interviews, que White mantém no site do Caras e Vozes da Recuperação. 
CARAS E VOZES DA RECUPERAÇÃO
Caras e Vozes de Recuperação é uma organização sem fins lucrativos dos Estados Unidos que surgiu, no início desta década, comprometida com a organização e mobilização de milhões de norte-americanos que estão em recuperação à longo prazo da dependência de álcool e outras drogas, seus famílias, amigos e aliados, dando voz a essas pessoas.

Caras e Vozes está trabalhando para mudar a visão preconceituosa contra os dependentes químicos, mostrando que o problema tem recuperação, e defendendo a inclusão social das pessoas que viveram esse problema.

A organização tem a missão de demonstrar que a recuperação da dependência está funcionando para milhões de americanos, defender polítifcas de  saúde pública nessa área, além de organizar as comunidades em recuperação para promoverem apoio e esperança para aqueles que ainda estão lutando contra o poder da dependência química. A organização conta, atualmente, com uma rede de mais de 20 mil pessoas e várias organizações que praticam advocacy da recuperação.
 Leia a entrevista

MARCELO SODELLI: “A ABRAMD QUER DIMINUIR O ESTIGMA E O PRECONCEITO CONTRA USUÁRIOS DE DROGAS”


Marcelo Sodelli foi reconduzido à presidência da ABRAMD para 2012/2014
Crisvalter Medeiros

O 3º Congresso Internacional da Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD), que aconteceu no período de 31 de outubro a 02 de novembro no Hotel Dall’Onde, em Bento Congalves-RS, contou com a participação de 250 pessoas entre estudantes, educadores e profissionais. No final do evento, o professor da Faculdade de Psicologia, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Marcelo Sodelli, foi reconduzido à presidência da entidade para o biênio 2012/2014. O professor Marcelo Sodelli falou sobre os objetivos da Abramd.

P. Professor Marcelo, qual o objetivo desse evento?

R. O evento teve o objetivo de trabalhar com a interface entre cultura, educação e saúde, porque a questão da droga ela não caminha em uma só direção, para compreendê-la é preciso varias disciplinas.

P. Qual é a importância da ABRAMD no contexto das políticas sobre drogas no País?

R. A ABRAMD nasceu com a idéia de criar um espaço onde as questões relacionadas às drogas pudessem ser pensadas de maneira mais ampla, ou seja, não só vinculadas à área médica, nem só á área policial, nem também vinculada apenas à área criminal. A ABRAMD é um espaço no qual o ser humano é o foco fundamental. Desta forma, os questionamentos relacionados às drogas devem ser observados a partir da relação do homem com as substâncias, sem privilegiar o homem nem a droga, mais entendo essa relação de forma complexa.

P. Neste sentido, há algum projeto em políticas públicas que a ABRAMD esteja dando mais destaque atualmente?

R. A ABRAND defende que as questões relacionadas às drogas não sejam vista apenas pelo enfoque das políticas de repressão. É preciso tratar o problema com mais sinceridade e do ponto de vista dos direitos humanos.

P. Marcelo, existe no país uma comunidade em recuperação do uso de drogas. Considerando que ainda há muito estigma e preconceito com o usuário, ou com quem está em recuperação da dependência, a Abramd teria algum projeto que vise a mobilização social dessa população junto aos profissionais e a outros segmentos interessados no problema?

R. Realmente, a idéia da Abramd é tentar diminuir o preconceito, principalmente, quando se pensa a droga apenas sobre o aspecto das substâncias ilícitas. A abramd, na verdade, quer discutir o uso de qualquer tipo de droga, criar um espaço onde as pessoas possam pensar essas questões de uma maneira mais ampla no sentido de tentar trazer à tona as verdadeiras questões, ou seja, não pensar unicamente na dependência, mas pensar também na questão do uso de risco, uso cultural, pensar na banalização das drogas lícitas, por exemplo, o álcool. Eu acho que é isso que a Abramd tenta fazer.

P. Qual é a importância da população realmente se envolver nessas discussões?

R. A importância é quebrar o preconceito para que a população entenda que todos de alguma forma fazem uso de alguma droga. Na sociedade atual, todas as pessoas fazem uso de algum tipo de substancia e aí a questão é entrar no abuso, numa forma de usar que leva ao aprisionamento. Nesse sentido, a população deve ser pensada como um todo, desde a educação infantil, até a vida na universidade e no campo profissional. As drogas devem ser tratadas não como um problema exclusivo de uma pessoa ou de alguns indivíduos, mas como uma questão que todo ser humano tem que lidar com ela em algum momento da sua vida.

P. Qual é a importância da comundide científica nesta questão, já que ela não está tão envolvida exceto em alguns centros de excelência?

R – Nesse sentido a Abramd tenta integrar tanto a sociedade civil, como pessoas que estão interessadas em discutir esta questão como pesquisa. Portanto, a idéia é trabalhar com esse tema de uma forma multidisciplinar. É importanto trazer tanto os leigos preocupados com essa questão, como também os pesquisadores que muitas vezes estão mais distantes desta realidade específica. Fazer essa interface é fundamental para a ABRAMD.





quarta-feira, 2 de novembro de 2011

TRABALHOS DE ESTUDANTES DO IFPB RECEBEM MENÇÃO HONROSA NO 3º CONGRESSO INTERNACIONAL DA ABRAMD, EM BENTO GONÇALVES-RS

Professora Vania Medeiros e os estudantes do IFPB sendo homenageados no Congresso Internacional da ABRAMD, no Rio Grande do Sul 


A Comissão Científica do 3º Congresso Internacional da Associação Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD) concedeu menção honrosa à professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) Vania Medeiros e aos alunos Dário Macedo Lima, Caroline Targino, Jaqueline Carla e Samara Amorim, do Curso Técnico Integrado em Controle Ambiental, do Campus de João Pessoa, pelos trabalhos de extensão e pesquisa apresentados no evento.

Os alunos compõem a equipe do Núcleo de Estudos Transdisciplinares em Dependência Química (NETDEQ), da Pró-Reitoria de Extensão do IFPB, e participaram do evento com quatro trabalhos na área de prevenção ao uso de drogas. Os alunos do IFPB foram os únicos de nível médio a apresentar trabalhos ao lado de estudantes de nível superior das mais renomadas universidades do Brasil e de outros países da América Latina.

Os trabalhos apresentados pelos alunos do IFPB foram elogiados por pesquisadores de renome na área da drogadição, a exemplo da professora Ana Regina Noto, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP); Helena Barros, Universidade Federal das Ciências da Saúde de Porto Alegre; professora Eroy Aparecida da Silva, da UNIFESP, e da professora Bettina Grajcer.  

A participação dos alunos do IFPB no evento da Abramd, que este ano aconteceu no Hotel Dall’Onder, em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, incentivou a diretoria da entidade a criar uma nova modalidade de apresentação de trabalhos na categoria Pesquisa Júnior, que estará em evidência a partir do próximo Congresso.

Segundo a professora Vania Medeiros, essa premiação foi um estímulo ao protagonismo juvenil na área da prevenção ao uso de drogas. “O envolvimento dos jovens na pesquisa nessa área fortacele os vínculos do estudante com a aprendizagem constituindo-se, também, em um fator de proteção aos comportamentos de risco”, enfatizou.

Os estudantes, por sua vez, ficaram bastante surpresos com a repercussão que os seus trabalhos tiveram no evento. Em meio à comunidade científica, sendo alunos de nível médio, eles se perceberam com o mesmo potencial de produção acadêmica.




crisvalter Medeiros

PROFISSIONAIS DISCUTEM O MODELO DE REDE NA ATENÇÃO AO USO DE DROGAS


Mesa Redonda: Redes e reorganização dos modelos assistenciais

Crisvalter Medeiros


Os modelos atuais das práticas dos profissionais da saúde não respondem às demandas do Sistema Único de Saúde. A conclusão foi apresentada, nesta terça-feira (01), pela pesquisadora Claunara Schilling Mendonça na palestra sobre Redes e reorganização dos modelos assistenciais, no 3º Congresso Internacional da Associação Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD), no Grande Hotel Dall’Onder, em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul.

Segundo a pesquisadora, o Brasil ainda não resolveu os problemas relacionados à atenção básica em saúde e já está sendo desafiado por uma forte carga de doenças. Nesse cenário se destaca os problemas relacionados à saúde mental. “Essa realidade exige uma reestruturação da rede assistencial fundamentada no modelo sistêmico”, assinalou.

Os principais problemas elencados pela pesquisadora foram: a fragilidade da comunidade nos serviços de atenção à saúde, uma gestão que se fundamente numa política que considere os aspectos populacionais ao invés dos individuais, além das limitações na formação profissional.

Também participou dessa mesa, o coordenador geral de saúde mental do Ministério da Saúde, Roberto Tykaroni. O gestor disse que é preciso repensar a municipalização do SUS e que o governo irá fazer uma reforma no sistema criando as regiões de saúde.

Tykaroni explicou que essa reforma terá o objetivo de provocar interações nas administrações municipais visando um consenso em serviços de saúde que considere a rede de urgência, a de atenção primária e a de saúde mental. Para o psiquiatra essa reforma pretende estimular a co-responsabilidade sanitária dos gestores em suas respectivas áreas de atuação. Os pressupostos da nova política são os paradigmas de organização sistêmica, explicou ele, acrescentando que “essa política vai valorizar mais os relacionamentos do que as intervenções isoladas”.

Transpondo esses questionamentos para o campo das drogas, o coordenador de saúde mental admitiu  que as comunidades terapêuticas servem a uma contingência para atender às necessidades do usuário sair do seu ambiente enquanto não acontecem mudanças nesse ambiente.

Para ele, as comunidades terapêuticas devem ser vistas como mais uma experiência social que vai receber apoio financeiro do governo, o que estará condicionado a uma regulamentação e acompanhamento técnico. Por outro lado, também está ocorrendo uma ampliação do Sistema Único de Saúde nessa área, esclareceu.  

COORDENADORES DOS CENTROS REGIONAIS DE REFERÊNCIA ESTÃO ARTICULADOS EM ÂMBITO NACIONAL

Coordenadores dos CRRs discutem sustentabilidade dos projetos
Crisvalter Medeiros


A mesa redonda “Crack e outras drogas no século XXI – possibilidades e limites dos Centros Regionais de Referência (CRR), na programação do 3º Congresso da Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD), nesta segunda-feira (31), provocou uma reunião de articulação entre os coordenadores de CRRs que estão participando do evento.

O 3º Congresso da  ABRAMD está acontecendo desde o último domingo (30), no Hotel Dall’Onder, em Bento Gonçalves-RS. O evento encerra-se na próxima quarta-feira (02)

O professor Telmo Mota, coordenador do CRR de Juiz de Fora, um dos palestrantes da referida mesa, levantou alguns questionamentos sobre o papel dessas entidades. Segundo o professor, esses centros deveriam ter um papel mais efetivo nas políticas públicas sobre drogas, ao invés de apenas promover treinamentos para profissionais. “Os centros tem potencial de promover mudanças através da oportunidade de mobilização para propor políticas públicas na área de drogas”, enfatizou o professor da Universidade Federal de Juiz de Fora que trabalha desde 2003 com drogadição na Zona da Mata, em Minas Gerais.

O coordenador do CRR da Universidade Federal de Rio Grande-RS, professor Fernando Amarante, informou que já está em fase de encerramento dos cursos de capacitação e que a principal dificuldade foi com a gestão financeira através do SICONV. O CRR de Rio Grande está ligado ao Centro Regional de Estudos, Prevenção e Recuperação de Dependentes Químicos que funciona há mais de 20 anos na região.

A professora Tânia Maria da Silva, que coordena o CRR ligado à Universidade Federal de Goiás, elencou algumas limitações na implementação do projeto, a exemplo da ausência de profissionais capacitados para ministrar os cursos, já que as universidades localizadas na Região não se interessam pela temática. Ela também se referiu à falta de estrutura física, humana e financeira.

Segundo a professora Tânia, algumas possibilidades para esses centros são: formação de profissionais com o critério da experiência no serviço, estímulo à implantação de linhas de pesquisa em diferentes áreas, preparação para novos cursos, atender demandas da comunidade e a capacitação de gestores.

A coordenadora do CRR do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), professora Vania Medeiros, destacou a importância da implantação desta política para a promoção de ações regionais. Ela enfatizou que o CRR do IFPB, na Paraíba, foi viabilizado a partir de parcerias com centros de excelência nacionais, a exemplo do PRODEQUI, da Universidade de Brasília. Segundo a professora, no próximo mês mais de 300 profissionais das Redes SUS e SUAS vão concluir os quatro cursos do CRR-IFPB.

Em decorrência da importância dessa iniciativa da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), os coordenadores dos CRRs, que estão participando do Congresso da ABRAMD, decidiram se manter articulados para possíveis gestões que viabilizem a sustentabilidade ao projeto. O grupo permanecerá conectado através de uma lista de discussões online.