Da esquerda para a direita: Adele Nascimento, Rênio Torres, Deusimar Wanderley, Francisco Morais.
Dando continuidade à VII
Semana Municipal de Políticas Sobre Drogas, o Conselho Municipal de Políticas
sobre Drogas (COMAD-JP), de João Pessoa, realizou hoje (13), no Auditório da
Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Paraíba (OAB-PB), uma mesa redonda
sobre a descriminalização da maconha.
Participaram do evento, como
debatedores: o presidente COMAD-JP, doutor Deusimar Wanderley Guedes, que
presidiu a mesa dos trabalhos; o jornalista Crisvalter Medeiros, coordenador
adjunto do Centro de Referência Regional, da Secretaria Nacional de Políticas
sobre Drogas (SENAD); o advogado Francisco Torres de Morais Filho, presidente
do COMAD-PATOS-PB, o estudante do curso de História da UFPB, Rênio Torres,
ativista da marcha da maconha; e Adele Nascimento, da Frente Paraibana de
Drogas e Direitos Humanos.
Na abertura do debate, o
presidente do COMAD, Deusimar Wanderley, que também representou a OAB, reclamou
da falta de orçamento da entidade para o financiamento das campanhas e projetos
na área. Segundo ele, o COMAD é de suma importância para propor e monitorar as
políticas sobre drogas no município, no entanto, não dispõe de infraestrutura
adequada para a missão.
Deusimar afirmou que só as
discussões trarão uma solução humanizada e adequada para o problema das drogas
na sociedade. Ele lembrou que, conforme dados da ONU, existem 180 milhões de
usuários de drogas no mundo, atualmente, e que não há uma receita definitiva
para tratar o problema em nenhum país.
O advogado apresentou
argumentos de grupos que são contra e a favor da descriminalização do uso da
maconha. Os argumentos a favor da descriminalização são: resolver o problema do
tráfico e da violência, respeito aos direitos humanos dos usuários, diminuição
do consumo e dos problemas de saúde, cobrança de impostos, etc. Já os
argumentos contra são: a descriminalização não evitará o narcotráfico, as
dúvidas sobre o fim da violência, diminuição global do consumo e diminuição do
impacto dos problemas de saúde, etc.
O estudante ativista da
marcha da maconha, Rênio Torres, leu uma carta aberta à população defendendo a
legalização da maconha, na qual enfatiza que o problema do uso de drogas não é
caso de polícia, mas sim, de saúde. O jovem apresentou diversos argumentos
valorizando a maconha do ponto de vista agroeconômico, medicinal e como uso
recreacional.
A representante da Frente de
Direitos Humanos, Adele Nascimento, argumentou sobre a autonomia que os
sujeitos devem ter sobre o uso de substâncias e criticou a visão estereotipada
da associação do uso de drogas e estigmas sociais. Ela também se referiu ao
papel que o Estado deveria ter no campo da regulamentação da comercialização dessas
substâncias para garantir a qualidade dos produtos, evitando maiores impactos
na saúde pública.
O presidente do COMAD de
Patos, Francisco Morais, lamentou os índices crescentes de violência naquela
região. Segundo ele, a cidade de Patos registra cerca de 60 homicídios ao ano.
Para o operador de segurança, existe uma associação indevida entre
criminalidade e uso de drogas. “O que está acontecendo, na verdade, é o
sucateamento da segurança pública em nível nacional", disse. Morais está
preocupado que a descriminalização da maconha venha impactar, ainda mais, os
problema relacionados à segurança e à saúde pública no país”.
O jornalista Crisvalter
Medeiros resgatou discussões que já aconteceram em outros fóruns sobre a
descriminalização da maconha, a exemplo do Congresso da ABRAMD, no ano passado,
na Universidade do Estado da Bahia, que discutiu o problema da
descriminalização e direitos humanos, além do uso fitoterápico da maconha.
Medeiros lembrou que no
Simpósio Internacional sobre Drogas: “Da Coerção à Coesão”, promovido pela
SENAD, em setembro de 2013, em Brasília, foi discutido o documento do
Escritório das Nações Unidos sobre Drogas e Crimes, publicado em 2010, que já
orientava um novo paradigma de tratamento social para o problema das drogas,
com uma clara preferência pelas políticas de direitos humanos, em detrimento da
repressão.
Segundo o jornalista, o
problema da regulamentação da maconha vai além do que apregoa o discurso da
marcha da maconha, sendo, na verdade, uma questão de interesse empresarial. Ele
disse que um grupo de pesquisadores do Centro Sul já tem um projeto de
implantação da empresa denomina Maconha Bras, que vai atuar no âmbito da
pesquisa fitoterápica do produto.
O evento contou com a
participação de representantes de organizações governamentais e
não-governamentais, instituições públicas de ensino superior, Igreja Católica,
e familiares de usuários.
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