domingo, 4 de julho de 2010

CONSUMO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS ESTÁ BANALIZADO ENTRE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS

Por Crisvalter Medeiros


O Governo Federal divulgou, recdentemente, mais uma pesquisa epidemiológica sobre o uso de álcool e outras drogas entre os jovens brasileiros. Desta vez, o foco foi o segmento universitário. O I Levantamento Nacional sobre Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras ouviu mais de 18.000 universitários.

O estudo revela que quase metade dos universitários brasileiros já fez uso de alguma substância ilícita, 86%  já usou álcool uma vez na vida, e que 80% dos entrevistados, que se declararam menores de 18 anos, afirmaram já ter consumido algum tipo de bebida alcoólica; apesar do uso da substância estar proibida pelo ECA. Outro ponto surpreendente é que o consumo de álcool, tabaco e outras drogas entre os universitários é mais frequente que na população em geral.

Detalhes estatísticos da pesquisa:
- 49% dos universitários pesquisados já experimentaram alguma droga ilícita pelo menos uma vez na vida
- Do grupo dos universitários que se declararam menores de 18 anos, 80% dos entrevistados afirmaram já ter consumido algum tipo de bebida alcoólica;
- 86% dos universitários já fizeram uso na vida de álcool e 47% de produtos de tabaco
- 22% dos universitários estão sob risco de desenvolver dependência de álcool e 8% de maconha;
- 36% dos universitários beberam em "binge" nos últimos 12 meses e 25% nos últimos 30 dias;
- Cerca de 40% dos universitários usaram duas ou mais drogas nos últimos 12 meses e 43% relataram já ter feito uso múltiplo e simultâneo de drogas na vida. Desses 43%, 47,8% alegaram como motivação do uso “simplesmente porque gostavam ou porque lhes possibilitava esquecer os problemas da vida”;
- 18% dirigiram sob efeito de álcool e 27% pegaram carona com motorista alcoolizado;
- 9% não possuem o hábito de utilizar métodos contraceptivos, 3% já forçaram ou foram forçados a engajar em intercurso sexual e 41% declararam já ter feito o teste para detecção do vírus HIV.

O estudo é uma realização da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), órgão do Governo Federal responsável por coordenar a implementação da Política Nacional sobre Drogas (PNAD), e da Política Nacional sobre o Álcool (PNA), em parceria com o Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (GREAFMUSP.

COMENTÁRIOS

Algumas questões a destacar nessa pesquisa dizem respeito á obviedade de alguns dados apresentados no trabalho, a exemplo do alto consumo de álcool entre os jovens brasileiros. A situação pode ser observada empiricamente, basta ir a quaisquer das nossas festas populares e ver o exagero que é o uso de álcool inclusive pelos adolescentes.

Parece que o governo se utiliza da estratégia da divulgação de dados estatísticos para dar a impressão de estar promovendo alguma intervenção. O nosso problema não é mais identificar, mas promover interferência no processo através de políticas públicas de prevenção e realizar o monitoramento das ações.

Outro ponto que chama a atenção é a falta da “inclusão” dos professores e técnicos destas Instituições na pesquisa. Será que na universidade não tem professores usuários de substâncias psicoativas? Tem, sim! O problema é que a pesquisa é feita por eles mesmos, a quem não interessa a auto-revelação. Mostrar que os estudantes exageram no uso de álcool, sem apontar as causa, sem pelo menos contextualizar o problema, é estereotipar um segmento que já o é por demais. Por outro lado, as estatísticas não dizem muito sobre o problema, pois é um mito achar que os números falam por si, pelo menos neste caso.

Digo isto porque o modelo de saúde pública no Brasil costuma culpabilizar as vítimas dos processos de adoecimento. E, no caso do uso de álcool, os estudantes são vítimas de uma sociedade negligente com esse produto. Por outro lado, os estudantes exageram no uso de álcool porque essa substância está intrinsecamente inserida na nossa cultura e não existe nenhum tipo de controle sobre a indústria perniciosa do produto.

O que fazer? Precisamos, urgentemente, nos mobilizar e, justificados pelos resultados das pesquisas já realizadas, e pela realidade observável empiricamente, exigir que o governo execute as políticas públicas sobre drogas; pois nesta área, não ficamos atrás de nenhum país do mundo: temos as melhores políticas públicas de controle do álcool, tabaco e outras drogas.

O problema é que no Brasil as leis são feitas para ter efeito artístico, ou seja, para serem apreciadas, divulgadas e promover os seus criadores, apenas isto. Depois são sucumbidas nos arquivos institucionais. Por que será que não conseguimos executar as leis neste País? Resposta: Por que somos uma sociedade extremamente corporativa.

O Brasil é o paraíso da indústria do álcool. Os preços de um “latão” de cerveja em supermercado é ridículo, cerca de R$ 1,20 (um real e vinte centavos), mais barato que água mineral. Isto não acontece em nenhum país civilizado do mundo. Não temos nenhum tipo de restrição á produção ou consumo deste produto tóxico; o que já é práxis nas sociedades desenvolvidas. O controle do uso de álcool pode ser feito através da majoração dos preços, aumento de impostos, restrição aos pontos de comercialização, burocratização da licença para comercializar o produto, formação dos vendedores, e o que é mais difícil, o controle da publicidade nas mídias.

A única iniciativa em termos de controle do álcool no Brasil é a tolerância zero para a condução de automóveis após a ingestão do produto. No entanto, essa legislação, que é das melhores, não está sendo cumprida rigorosamente. Enquanto não nos conscientizarmos da necessidade urgente da implementação de políticas públicas de controle do álcool, o Brasil continuará sendo o paraíso para um tipo de atividade que europeus e americanos (do norte) consideram uma indústria epidemiológica. E quem arca com os prejuízos? Principalmente os jovens que são os mais manipuláveis pelo marketing dessa indústria, cujos produtos são de alto grau de nocividade á população.








Nenhum comentário:

Postar um comentário