Foto: Agência Estado: A crackolândia, em São Paulo, foi o local de origem do crack no Brasil
O consumo de crack já se alastrou pelo País, aponta pesquisa da Confederação Nacional de Municípios (CNM) divulgada na manhã de hoje (13.12), em Brasília. Levantamento feito com 3.950 cidades mostra que 98% dos municípios pesquisados enfrentam problemas relacionados ao crack e a outras drogas. "Falta uma estratégia para o enfrentamento do uso do crack. Não há integração entre União, Estados e municípios", alertou o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.
Ziulkoski criticou o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, lançado pelo governo federal em maio deste ano. "É um programa que não aconteceu, praticamente nenhum centavo chegou". Ao apresentar os números, ele disse que não avaliaria se a iniciativa teve intenções eleitoreiras. "Apenas estou trazendo números e realidades".
A CNM observa ainda que, embora haja um grande esforço para a redução da mortalidade infantil, não há política de Estado de prevenção à mortalidade juvenil. A confederação também ressalta a importância de ações na região de fronteira para impedir a entrada de droga no País.
Números
O estudo da CNM constatou que, dos municípios pesquisados, apenas 14,78% afirmaram possuir Centro de Atenção Psicossocial (Caps), que oferece atendimento à população e acompanhamento clínico de pessoas com transtornos mentais, entre eles usuários de drogas.
Quando o assunto foi a existência de programa municipal de combate ao crack, 8,43% das cidades alegaram possuir alguma iniciativa dessa natureza. Mesmo sem um programa definido e com a falta de apoio das demais esferas de governo, 48,15% dos municípios realizam campanha de combate ao crack, aponta a pesquisa.
Fonte: Agência Estadão
PSICÓLOGA DEFENDE TESE SOBRE O PERCURSO DA DEPENDÊNCIA DO CRACK NO BRASIL
A psicóloga Andréa Costa Dias em um dos capítulos da sua tese de doutorado na UNIFESP, intitulada: Estudo Longitudinal que Acompanhou o Percurso de Dependentes de Crack ao longo de 12 Anos, descreve a chegada do crack no Brasil e aborda os níveis de consumo.
A partir do final dos anos 80 e início dos anos 90 os primeiros registros de utilização e apreensão do crack, no Brasil, tiveram como pano de fundo a cidade de São Paulo. A droga, inicialmente teria sido introduzida na periferia do município, no ano de 1988, mais especificamente, em bairros da região leste; e depois se espalhado para outras localidades. Em um dos pioneiros estudos, que objetivou retratar as mudanças realizadas nas formas de administração de cocaína, ao longo de um extenso período; verificou-se que a porcentagem dos que fumavam crack cresceu de 5%, no final dos anos 80, para 65% entre 1995-97.
Além disso, conforme verificado em outras cidades do mundo, o aumento dos níveis de utilização da droga foi acusado pelo montante de usuários de crack, que passaram a se apresentar para tratamento.
Segundo levantamento realizado em dois serviços públicos especializados do município, entre 1990 e 1993, quase quadruplicou o percentual de indivíduos que relataram utilização da substância. Na direção contrária, e certamente alimentando o contexto anterior, os níveis de consumo de cocaína endovenosa (“baque”)
decaíram.
O progressivo abandono da via injetável ocorreu por conta de uma percepção de risco, envolvendo está prática e o contágio do HIV. A migração para o crack parecia ser mais segura contra a transmissão do vírus (o que adiante se provou um equívoco); e ainda com a vantagem de se conservar a potência do efeito.
Mas a popularização da “pedra” se assentou – primordialmente – em ardilosas iniciativas de mercado, que fartamente a disponibilizaram, a valores reduzidos (embora o uso desenfreado onere o preço final). Em muitos pontos de venda seu consumo foi otimizado por uma tática de interrupção do fornecimento de outras substâncias, tornando o crack “peça única” ou produto complementar e obrigatório, quando da aquisição de outras substâncias.
Vale mencionar que nos primeiros anos de chegada à cidade de São Paulo, não era raro que usuários tivessem de se familiarizar com seus, até então, desconhecidos e intensificados efeitos. Vários deles aprenderam, com os próprios traficantes ou companheiros de uso, a realizar a conversão caseira do pó de cocaína para a forma fumável de crack. Diluíam-se pequenas quantidades de pó em água e adicionava-se bicarbonato de sódio (ou amoníaco). Esta mistura era aquecida, resultando em textura oleosa que, após esfriamento, tornava-se uma “película fumável de crack”, chamada de casca (Domanico, 2006).
Aspectos do perfil do usuário.
Na literatura nacional encontram-se descritas uma série de características, que auxiliam na composição de um quadro geral de referência, do perfil do usuário de crack: predominantemente do sexo masculino, adulto jovem (entre 20 e 30 anos), solteiro, inserido no mercado informal de trabalho ou em situação de desemprego. Verifica-se baixa escolaridade (ensino fundamental ou menos) e modesta condição sócio-econômica. Para a maioria, o crack não constitui primeira substância de consumo, embora a seqüência de drogas até que se chegue ao crack tenha decrescido, dentre os mais jovens.
Outra característica bastante presente é o uso de múltiplas substâncias (lícitas e ilícitas). Como a dependência de crack tende a se instalar rapidamente, usuários da droga que buscam tratamento; o fazem mais precocemente do que dependentes de cocaína aspirada. Registram-se algumas vulnerabilidades, como engajamento em comportamento de risco (sexual e compartilhamento de insumos) e envolvimento em delitos, de maneira a subsidiar o uso continuado e frequente.
Atualmente, com a disseminação do crack, especula-se a respeito da presença de padrões intensificados de consumo também entre indivíduos de classes sociais abastadas, baseado no perfil dos que tem se apresentado para tratamento.
Outra tendência pouco explorada é a das práticas de consumo de crack entre mulheres, por vezes ocultadas, em função do estigma e das fortes exigências sociais. Ainda assim, por volta do ano 2000, as caracterizações da cultura do crack foram incluindo as vicissitudes do contexto de uso, por parte do gênero.
Outra versão da cocaína: especificidades bioquímicas do crack
A cocaína é um alcalóide extraído das folhas da planta de coca (Erythroxylon Coca) cujo cultivo foi realizado, em primeira instância, no Peru e Bolívia. As etapas para produção do pó de cocaína se iniciam pelas folhas que são rapidamente secadas ao sol, depois moídas, prensadas com ácido sulfúrico, querosene ou gasolina e, por fim, comprimidas até formarem uma massa altamente concentrada denominada pasta-base. Esta última sofre um minucioso processo de refino (lavagem com éter, ácido hidroclórico, acetona) para redundar na cocaína em pó (branco e cristalino); passível de ser aspirada, ingerida ou dissolvida em água para uso injetável.
O crack, por sua vez, deriva da própria cocaína na sua forma fumada. Ele pode ser obtido a partir do pó (processo mais caseiro) ou, o que é mais usual, por intermédio da pasta-base, produzido, por tratamento químico, em larga escala, por traficantes. A preparação resultante (pedra), sendo volátil, pode ser fumada e, deste modo eficientemente absorvida pelas vias pulmonares, de onde se explica sua alta potência.
O crack demora apenas alguns segundos para fazer efeito, mas sua duração é limitada (por volta de 5 a 10 minutos), o que requer que a droga seja continuamente administrada. Estas características contribuem para que os episódios de consumo evoluam em menor tempo para crescentes padrões de dependência.
A droga produz intensa sensação de prazer, euforia, autoconfiança e poder, além de reduzir a necessidade de sono e alimentação. O término do efeito geralmente é acompanhado por disforia, forte fissura (vontade extremada de utilizar o crack) e, com o passar do tempo, acentuada perda de peso e parcos cuidados, tanto com a aparência física, quanto higiene pessoal.
Fonte Blog da UNIAD
Fonte Blog da UNIAD
Nenhum comentário:
Postar um comentário