Dênis Petuco apresentou dados preliminares da pesquisa da Fiocruz
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está realizando o mapeamento das cenas de uso de crack (cracolândias), em 26 capitais brasileiras, no Distrito Federal, nove regiões metropolitanas, municípios de pequeno e médio porte e zona rural. João Pessoa está incluída na pesquisa.
A partir desse mapeamento, a Fiocruz pretende desenvolver o maior inquérito epidemiológico sobre a situação dos usuários de crack já feito em âmbito nacional. O projeto é financiado com recursos da SENAD – Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas.
Uma preliminar do mapeamento das cenas de uso de crack em João Pessoa foi apresentada na última sexta-feira (08.04), durante a reunião dos integrantes do Plano de Ação - União Pela Vida contra o Crack, do Governo do Estado da Paraíba. O evento, que aconteceu no auditório da PBPREV, no período da tarde, foi coordenado pela Secretária de Desenvolvimento Humano do Estado da Paraíba, professora Aparecida Ramos; Pastor João Filho, do Programa Estadual de Políticas sobre Drogas; e pela coordenadora da área técnica de saúde mental da Secretaria Estadual de Saúde, psicóloga Shirlene Queiroz de Lima.
CENAS DE USO DE CRACK EM JOÃO PESSOA
Na Capital paraibana, as cenas de uso de crack mais constantes foram localizadas no centro da cidade e adjacências: Varadouro, Jaguaribe, Tambiá e Parque Sólon de Lucena (Lagoa). Outros pontos de destaque são as praias urbanas: Cabo Branco, Tambaú, Bessa e Manaíra. Uma característica dessas cenas de uso de crack é a densidade de pontos com poucos usuários.
O coordenador da pesquisa em João Pessoa, sociólogo Dênis Petuco, citou o exemplo do Cabo Branco, onde foram identificados 21 pontos, mas cada ponto desses sendo frequentado por apenas três ou quatro pessoas. Já em Mangabeira, não há muita densidade de pontos, mas as cenas são protagonizadas por mais de cem pessoas, e em áreas bastante movimentadas. O pesquisador esclareceu que essas cenas acontecem em casas abandonas, terrenos baldios, praças públicas, algumas ruas, quadras esportivas e matagais próximos às áreas urbanas.
Segundo Dênis, a pesquisa da Fiocruz vai realizar o levantamento fidedigno do número de usuários de crack no país, explorando suas características sociodemográficas e culturais. “Pela primeira vez, teremos o perfil criterioso dos usuários de crack e os danos que o uso dessa substância causa à saúde dessas pessoas”, assinalou o pesquisador que é educador social do CAPS-AD Cabedelo e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPB.
O pesquisador tem uma larga experiência de trabalho na área de educação social com usuários de drogas em outras regiões do país. "Aliás, esse é um dos pontos de destaque da metodologia da pesquisa que vai diferenciá-la dos levantamentos anteriores", assinalou.
Segundo Dênis, o trabalho etnográfico da última parte da pesquisa viabilizará o conhecimento em profundidade das características regionais desses usuários, possibilitando a composição do perfil sociocultural dessas pessoas.
A relação etnográfica viabilizada pelo inquérito epidemiológico, prosseguiu o pesquisador, identificará várias questões, a exemplo do risco de uso, doenças não infecciosas, transtornos mentais, interação com outras drogas, além de fazer testes de HIV, hepatites “B” e “C” e tuberculose. “Queremos saber se essa população usuária de crack tem índices mais elevados dessas doenças, ou se o quadro é igual ao da população em geral”, informou.
Dênis explicou a inovação da pesquisa na área metodológica. A triangulação dos dados, ou seja, o levantamento domiciliar, o mapeamento das cenas de uso e o inquérito epidemiológico, vai viabilizar uma representação mais profunda do perfil desses usuários, contribuindo para a elaboração de políticas públicas nas áreas da prevenção, intervenção e reinserção social, de forma mais adequada.
Essa pesquisa é realmente muito importante! Ela vai contribuir com toda certeza para as ações de prevenção e de redução do número de pessoas que usam e que pretendem usar essa terrível droga.
ResponderExcluirPrecisamos, todavia, valorizar e investir muito mais recursos nas ações educativas. Inverter uma realidade que foca muito mais nas ações repressivas. Se houvesse investimentos na prevenção semelhantes ao que se gasta com o combate, com a guerra contra o tráfico, já estaríamos numa situação muito mais tranquila.