Abertura do evento - Sala Guiomar Novaes - Funarte - São Paulo
Os métodos de intervenção nos problemas relacionados ao uso e abuso de álcool e outras drogas no Brasil serão alterados, profundamente, a partir do evento: Respostas Comunitarias: encontro de saberes e fazeres, que aconteceu no espaço da FUNARTE, na Al. Nothmann, 1058 - Campos Elíseos, São Paulo, Capital, nos dias 21 e 22 de março, de 2012.
As mudanças paradigmáticas suscitadas para a área de drogas, durante o evento, serão disseminadas através do livro: Tratamento Comunitário, do professor Efrem Milanesse, PhD em Psicologia, da Faculdade de Ciências Humanas, da Universidade de Paris Vº, Sorbonne, na França. A obra, que foi lançada pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, é um exemplo de como a integração de experiências e boas práticas poderá se transformar em modelos de ação que valorizem o saber local e forneçam apoio aos profissionais que atuam em intervenções voltadas aos usuários de álcool, crack e outras drogas.
Pode-se dizer que o evento, organizado pela equipe do Instituto Empodera e da Lua Nova, sob a responsabilidade da advogada Marta Volpi e da psicóloga Raquel Barros, foi uma demonstração de inovação nesta área. Além de ter sido realizado em um espaço alternativo, mais associado às artes, conseguiu integrar saberes acadêmicos, apresentação de políticas públicas e a disseminação de saberes populares; tudo feito com muito talento, criatividade e resiliência.
ANALISTAS INTERNACIONAIS ABORDAM MÉTODOS DE
INTERVENÇÃO SOBRE DROGAS
Na abertura do Evento, a representante do UNODOC - Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (Cone Sul), Nara Santos, fez algumas sugestões para se realizar intervenções nas relações sobre drogas ilícitas e a situação social. Segunda ela, as intervenções requerem as articulações de vínculos entre os indivíduos, elaboração de políticas públicas de transformação social; atenção especial sobre os processos migratórios e suas consequências, além de rever o problema das culturas de excesso e do individualismo. “No surgimento de problemas sociais, as drogas tem muita visibilidade, mas existem outras questões sociais que também demandam atenção; portanto, é preciso olhar para esses problemas e buscar soluções adequadas”, assinalou.
Por sua vez, o doutor Javier Sagredo, da Comissão Interamericana de Controle de Abuso de Drogas (CICAD), defendeu, em sintonia com as propostas do evento, que as políticas públicas devem ser elaboradas e executadas visando alcançar as comunidades. “Para tanto, é preciso buscar a orientação das ações desenvolvidas nessas comunidades”, sugeriu.
Javier explicou que há um vazio entre as ações institucionais e as comunidades. Na concepção dele, faltam articulações entre as bases dessas políticas e os esforços e demandas das comunidades. Segundo Javier, essas iniciativas não geram resultados efetivos, carecendo de alterações. “É preciso aprender mais com as iniciativas que vem das comunidades, dos agentes comunitários, e interligar essas experiências no âmbito institucional”, destacou.
A representante da OPAS - Organização Pan-Americana de Saúde, Drª. Maristela Monteiro, disse que é urgente o redimensionamento das políticas públicas na área de saúde e direitos humanos, em decorrência da dimensão trágica que esses problemas vem assumindo no Brasil.
Segundo Maristela Monteiro, é prioridade colocar a saúde pública no centro de toda a problemática relacionada com o impacto da oferta e consumo de substâncias psicoativas, exclusão social e as questões relacionadas com a marginalização social. Para ela, as políticas de saúde pública não devem seguir a ditadura da mídia, mas buscar melhorar a situação de saúde das minorias mais vulneráveis, dando-lhes acesso aos serviços de qualidade e promovendo os direitos humanos para esses segmentos.
Ela defendeu a inclusão das sub-pupulações excluídas dos processos sociais na saúde pública, a exemplo de índios, negros, adictos, com uma política embasada na integralidade sob o viés da prevenção, redução de danos e ações comunitárias.
PAULINA DUARTE DESTACA IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO
SOCIAL NAS POLÍTICAS SOBRE DROGAS
A Secretária de Políticas Públicas sobre Drogas, do Ministério da Justiça, Drª. Paulina Duarte, disse que desde 2003, o Brasil adotou uma política pública na área de drogas regida pela intersetorialidade e descentralização, fundamentada no conhecimento de base comunitária e científica.
Segundo Paulina Duarte, nenhuma política pública sobre drogas pode ser eficiente sem a participação social. Ela citou como exemplo dessa associação, entre o conhecimento comunitário e o científico, a Ong Lua Nova, de Sorocaba, no interior de São Paulo. A Lua Nova promove a reinserção social mulheres usuárias de drogas.
Paulina lembrou que o plano nacional de enfrentamento ao crack é um bom exemplo da integração do protagonismo social e das boas práticas surgidas nas universidades, como resultado da pesquisa científica. Segundo ela, essas práticas estão disseminadas, de forma integral, nos eixos da prevenção, cuidado e autoridade, do referido plano de enfrentamento ao crack.
A secretária Paulina Duarte destacou que os três eixos do plano estão perpassados pelas ações educativas, "pois não se faz enfrentamento de nenhum problema social sem pessoas capacitadas e vocacionadas para assumirem as ações", enfatizou. Nesse sentido, ela explicou que a sociedade brasileira, atualmente, está se beneficiando com o maior aporte de recursos da sua história na área de educação sobre drogas. A aplicação dos recurssos, nessa área, acontece através dos Centros Regionais de Referência, implantados a partir de 2010.
Paulina lembrou que há registros do uso de drogas desde o início da civilização, portanto, elas não vão desaparecer simplesmente da sociedade, o que pode acontecer são mudanças na forma de consumo dessas substâncias. “O problema das drogas deve ser enfrentado sem paixão, animosidade e preciosismos, mas com pragmatismo político e maturidade”, sugeriu.
Ela frisou que o Governo Federal não discrimina visões diferenciadas de suas políticas de enfrentamento das drogas, mas também não pode apoiar banalizações ou fundamentalismos relacionados ao tema. “As políticas de enfrentamento das drogas devem ser articuladas de forma intersetorial, com a concepção de que as drogas representam um problema que é da responsabilidade de toda a sociedade”, assinalou.
DIÁLOGOS SOBRE DIGNIDADE
Professora Maria Aparecida Penso, coordenou o diálogo sobre dignidade
O evento foi estruturado a partir das respostas comunitárias inscritas que, por sua vez, geraram diálogos temáticos em dignidade humana, educação, saúde e trabalho. A mesa que dialogou sobre o problema da dignidade humana deu destaque às experiências que apresentam condições de romper com os paradigmas profissionais que contemplam o simples assistencialismo, o intervencionismo e o profissionalismo sobre os segmentos sociais considerados vulneráveis. A metodologia das respostas comunitárias apresentadas suscita a necessidade de uma nova visão do cuidar, que se fundamenta na construção de vínculos que devem ser estabelecidos a partir de uma troca de experiências entre o cuidador e o beneficiário.
Esse diálogo foi coordenado pela professora da Universidade Católica de Brasília, Maria Aparecida Penso, com a participação de Drª. Luciana Boiteux, da UERJ; Drª Zita Vilar, do Piaui; Drª. Glória Aguero Bas, de Lima, Peru; Dr. Auro Lescher, do Projeto Quixote (SP) e Drª. Irene Serrano, da Colômbia.
DIÁLOGOS SOBRE EDUCAÇÃO
Dr. Roberto Canay, Vania Medeiros e Doralice de Oliveira (esquerda para a direita)
As experiências educacionais apresentadas como respostas comunitárias incentivaram a discussão acerca do rompimento da educação formal, além de uma reflexão sobre o modelo de educação pública vigente no País. Por outro lado, houve destaque das potencialidades de educadores que estão nas comunidades, lideranças que demonstram a capacidade de atuar no seu espaço social como agentes de transformação do comportamento de crianças, adolescentes e adultos atendidos nos programas.
Participaram deste diálogo: Professora Doralice de Oliveira, da Abratecom, que coordenou os trabalhos; professora Mafoane Odara, da Ashoca; Drª. Vania Medeiros, CRR-IFPB; Dr. Raul Tovar, Colômbia; Dr. Roberto Canay, do Observatório de Drogas de Buenos Aires-Argentina; Dr. Javier Macário, do Centro de Formação da Guatemala.
Neste diálogo ficou demonstrado que as respostas comunitárias rompem definitivamente com o conceito de saúde como ausência de doença. As discussões se pautaram em torno da capacidade de articulação do cuidado integral, com o fortalecimento de cuidados pessoais, relações sociais, intercomunicação e melhoria do ambiente físico onde as pessoas convivem com uma ação em rede.
O diálogo foi coordenado por Yadhira Bonilla, da Costa Rica, com a participação da Drª. Maristela Monteiro (OPAS); Wellington Nogueira (Doutores da Alegria), Dr. Luis Alberto (Laco), Coed-SP; Drª. Mercedes Aranguren, da Argentina.
Mesa coordenada por Luiz Algarra, da Papagalis.
Neste diálogo foram dabatidas as potencialidades pessoais em seus contextos comunitários. Observou-se, em todas as experiências apresentadas, que as habilidades de uma pessoa pode ser capaz de articular uma rede de colaboradores nas comunidades, visando à geração de renda e a realização de projetos autossustentáveis.
O diálogo foi coordenada por Luiz Algarra, designer de fluxos de conversação do projeto Papagalis; Dr. Christiano Basile (Consulado da Mulher); Dr. Felipe Bannitz (Programa ITCP-FGV); Dr. Omar Castillo (Chile); Dr. Raul Felix Tovar (Colômbia).
DEBATE SOBRE USO DE ÁLCOOL E JUVENTUDE
Da esquerda para a direita: Dr. Artur Guerra (USP), Cláudia Raphael (CUFA), Milton Seligman (AMBEV), Crisvalter Medeiros, CRR-PB.
O evento promoveu um debate sobre o tema Álcool e Jovens. Este diálogo foi coordenado por Crisvalter Medeiros, jornalista do CRR-IFPB, com a participação do Dr. Milton Seligman, vice presidente da AMBEV; Dr. Artur Guerra, Coordenador do GREA – Grupo Interdisciplinar de Estudos sobre Álcool e Drogas da USP; e Claudia Raphael, representando a CUFA – Central Única das Favelas.
O ponto mais polêmico deste diálogo foi a exposição dos projetos sociais de prevenção financiados pela AMBEV - Companhia de Bebidas das Américas, incluindo projetos desenvolvidos pela CUFA, em favelas do Rio de Janeiro, a exemplo do Bar Responsa. A plateia reagiu com indignação ao descobrir que a indústria do álcool está manipulando os movimentos sociais sob o pretexto de financiar a prevenção do uso de álcool entre adolescentes, que é o segmento menos representativo do consumo total de bebidas. O projeto, de forma dissimulada, garante a renovação dos estoques de consumidores dos produtos da AMBEV, desconsiderando os problemas correlatos ao uso e abuso de álcool pela população em geral.
Drª. MARISTELA MONTEIRO, DA OPAS, ALERTA SOBRE USO DE ÁLCOOL
Maristela Monteiro, da OPAS: desfazendo mitos sobre o consumo de álcool
Em decorrência da insatisfação gerada pela associação da indústria de bebidas alcoólicas aos projetos sociais desenvolvidos por entidades representativas de segmentos jovens, no Brasil, a representante da OPAS - Organização Pan-Americana de Saúde, Drª Maristela Monteiro, fez uma explanação sobre os riscos do consumo de álcool na população de uma maneira em geral. Ela destacou que no Brasil, entre o período de 2000 e 2010, o número de mortes associadas ao consumo de álcool aumentou de 11.700 para 17.300, resultando esse aumento em 47% de mortes relacionadas ao consumo deste produto.
Segundo Maristela, o número médio de morte por dia relacionadas ao uso de álcool é de 47 pessoas; já os transtornos relacionados ao consumo aumentaram 43%; atualmente há 19.3 milhões de dependentes de álcool no País. O sistema único de saúde gasta 1 bilhão de reais por ano com tratamento e internações hospitalares.
AS RESPOSTAS DA PARAÍBA
A Paraíba participou do evento com a apresentação de cinco respostas comunitárias: o Saber, sobre o trabalho de Gilson da Silva, na área de educação profissional com usuários de drogas, no município de Santa Rita; o trabalho de Tiago Aquino, na área de educação, no município de Alagoa Nova; a resposta do professor Badeco (Arnaldo Batista), com a escolinha de surf, na Praia do Bessa, para crianças em situação de vulnerabilidade social; mestre Clóvis Martins, com o trabalho de teatro de bonecos, desenvolvido nas escolas do município de Guarabira; e Crisvalter Medeiros, com ações de Mídia advocacy, em João Pessoa.
Apresentação de vivências no espaço cultural da Funarte - São Paulo:
Mestre do Babau (Clóvis Martins, de Guarabira-PB)
Gilson da Silva, de Santa Rita-PB
Tiago Aquino - Escola de Arte-Educação, em Alagoa Nova-PB
Crisvalter Medeiros, Mídia advocacy (João Pessoa-PB)
Interação com indígenas da Etnia Pataxó:
Apurinan Pataxó e Jeff Pataxó que falaram, no evento, sobre os ritos indígenas na saúde da comunidade.
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