sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A GUERRA ÀS DROGAS E O RISCO NORDESTE


Crisvalter Medeiros*

O Rio de Janeiro enfrenta mais uma fase de dificuldades relacionada ao combate ao narcotráfico. Cenas da guerra aos narcotraficantes, com a população no epicentro dos acontecimentos sofrendo as pressões dos dois lados, comovem a população brasileira.

Lamentavelmente está é uma guerra perdida. Os Estados Unidos da América, país berço da política de “guerra às drogas”, já reconheceram que essa estratégia não resolve o problema. Para o povo americano, a guerra deve ser outra, a da prevenção e do tratamento.

No entanto, a nossa situação é bem diferente da América do Norte. Aqui temos um verdadeiro apartheid social gerado pela exclusão social dos habitantes das periferias dos grandes centros urbanos que, na falta de ocupação formal, têm aderido ao comércio ilícitos de drogas. Portanto, por trás do problema das drogas há também uma dívida social histórica com alguns segmentos da sociedade.

Atualizando a questão, o quadro atual do narcotráfico configura-se como uma grande contradição. As periferias dos grandes centros urbanos, a exemplo dos morros do Rio de Janeiro, por muito tempo ficaram órfãos de políticas públicas do Estado. Essa terra de ninguém foi apropriada pelos traficantes que tem um papel no nosso contexto social: abastecer a classe média e alta de substâncias ilícitas; afinal, a cocaína não está ao alcance do poder aquisitivo de trabalhadores assalariados. Resumo da opereta: a falta da presença do Estado nos morros viabilizou o surgimento de um estado paralelo que foi se consolidando ao longo das décadas, financiado por setores privilegiados da sociedade. Atualmente o Estado legal reclama a reapropriação das áreas provocando a reação dos traficantes.

Além da inocuidade da estratégia, a guerra ao narcotráfico terá um desdobramento mercadológico. Os produtos tóxicos ficarão ainda mais valorizados pelos consumidores em decorrência da sazonalidade provocada pelo colapso no fornecimento no período de intervenção policial.

A análise mercadológica serve para demonstrar a grande contradição que dissimula o problema do narcotráfico no país, cujos elementos são: a falta da presença do Estado com políticas públicas nas favelas e a demanda da população pelas drogas ilícitas.

E onde entra o Nordeste nesta história? Os traficantes que forem, se forem, expulsos dos morros do Rio de Janeiro não ficarão no limbo; eles vão aterrissar em outras plagas e o local mais propício é o Nordeste, como já vem acontecendo há algum tempo. Aqui eles encontrarão um campo propício: uma polícia despreparada para lidar com estas situações e uma base de apoio na produção de drogas que é o polígono da maconha no Pernambuco, além de vastas áreas desabitadas.

Portanto, a solução desta equação complicadíssima do mercado ilícito das drogas não está na guerra, mas reside no fortalecimento de políticas públicas de inclusão social, fortalecimento das ações cotidianas na área da prevenção e do tratamento de usuários e dependentes, além de ações que venham desestimular o mercado ilícito dessas substâncias, a exemplo da educação profissional e criação de mais postos de trabalho e programas de empreendedorismo. Por incrível que pareça, o problema das drogas ilícitas também está relacionado a uma política mais rigorosa de controle da indústria do álcool que é o background do uso de drogas no Brasil e no mundo.

*Especialista em prevenção ao uso de drogas

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