Congresso tem início com debate sobre psicotrópicos
Crisvalter Medeiros
“Estamos diante de uma nova era para os agentes psicoativos que estão deixando de ser usados para os sinais de sintomas em pacientes, passando a ser utilizados em indivíduos sadios que por circunstâncias ambientais apresentam acanhamento, tristeza e outras realidades próprias da condição humana”
A conclusão foi apresentada pelo professor Elisaldo Luiz Araújo Carlini, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Coordenador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas (CEBRID), na palestra de abertura do 3º Congresso da Associação Brasileira de Estudos Multidisciplinares sobre Drogas (Abramd), que teve início neste domingo (30), no Hotel Dall’Onder, em Bento Gonçalves-RS.
Segundo ele, a ampla utilização de psicotrópicos impede a sociedade de lidar com os seus problemas básicos por outros meios e investe na promessa de melhorar a criatividade, a moral, a personalidade e alcançar a felicidade através desses produtos. “Os psicotrópicos são utilizados por 2/3 das mulheres não como um recurso médico, mas com a finalidade de melhorar a estética”, alertou.
O professor Carlini disse que o sonho da farmacologia é nos dar algo que os seres humanos nunca tiveram antes de forma plena: alegria, paz e bondade amorosa. Nos últimos 20 anos, acrescentou o pesquisador, a farmacologia vem tentando criar o “homo artificialis” que consiste no aumento da autoconfiança, autoestima, paz interior, tolerância, melhor humor, infalibilidade, beleza e sociabilidade; criando, assim, um tipo de raça superior, sem ser através da seleção genética.
Na opinião do professor Carlini, tudo isto não passa de um estímulo à consolidação de uma cultura de “dopping” geral com o objetivo de incentivar o consumo desses produtos e incrementar o poder econômico dessa indústria. “Em 2010 foram feitas 10 milhões de prescrições de psicotrópicos, gerando uma margem de lucro de bilhões de reais”, revelou o professor.
Na opinião do professor Carlini, os conselhos profissionais não estão interessados em refletir sobre essa realidade. Desta forma, ele sugeriu que a Abramd, como uma entidade multidisciplinar na área de drogas, deve liderar estudos nessa área para tentar mudar essa situação.
A programação do evento do Congresso da Abramd em Bento Gonçalves prosseguirá até a próxima quarta-feira com o debate dos temais mais atuais na área da prevenção, do uso e do abuso de drogas.
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