segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

PERDEMOS A GUERRA CONTRA O TRÁFICO DE DROGAS OU PRECISAMOS REPENSAR AS ESTRATÉGIAS DE COMBATE?

Deusimar Wanderley é advogado e psicólogo. Publica uma coluna aos sábados no jornal A União e vem se dedicando há muitos anos à prevenção e à repressão das drogas na sociedade. Deusimar editou alguns livros, enfocando o tema das drogas, que são bem aceitos pelo público. Os dois artigos, abaixo, são de sua autoria.



Alguns estudiosos acham que a guerra contra o tráfico de drogas ilícitas está perdida; outros discordam. Contudo uma coisa é certa: o consumo e tráfico de drogas têm se multiplicado, e isto é uma prova inconteste, que toda a estratégia de combate atualmente vigente precisa ser repensada.
A ONU atesta que o aparelho repressor do Estado só consegue apreender no máximo 10% das drogas ilícitas circulantes no mundo. Em relação ao tratamento da dependência química, as estatísticas também não são animadoras.
Os EUA, certamente, é hoje o país que investe o maior montante financeiro no combate às drogas. Contudo, é também o país em que mais se consome drogas ilícitas. Segundo Relatório da ONU (2008), “o tráfico de drogas movimenta anualmente em todo o mundo, cerca de 500 bilhões de dólares”. Só para termos uma idéia comparativa, a indústria farmacêutica global fatura aproximadamente 350 bilhões de dólares anualmente; a do tabaco 204 e a do álcool 280 bilhões. Como vemos, é preciso que a humanidade aprenda a desenvolver estratégias eficientes e menos danosas de como conviver com este mal.
Assim, a conscientização acerca destas substâncias e dos problemas orgânicos, familiares e sociais que estas poderão provocar aos seres humanos, e à sociedade como um todo precisa acontecer desde os primeiros anos de vida da criança. Pois, certamente a desinformação e o modelo social hoje vigente são os dois principais facilitadores para que seres humanos, especialmente adolescentes ingressem nas drogas, e uma parcela significativa destes se torne dependente destas substâncias. Todos nós sabemos que não há uma resposta segura ou fácil quando o assunto é droga, embora quase todas as pessoas possuam de pronto uma opinião formada. Mas de uma coisa podemos ter certeza, quanto mais bem informadas as pessoas são, mas difícil destas se tornarem dependentes das drogas; e estas informações têm que estar desvinculadas de valores morais, religiosos, econômicos, políticos etc.
Investimentos significativos por meio de campanhas educativas e informativas ininterruptas que obedeçam as realidades e desigualdades culturais de cada localidade precisam ser feitos.
Dentre as dificuldades no enfrentamento desta questão podemos citar: a falta de investimentos públicos na área preventiva-educativa, visando desestimular o consumo; o modelo social consumista; a tolerância da sociedade; o fácil acesso a essas substâncias, e a omissão generalizada hoje reinante nos diversos segmentos sociais. Temos uma indignação social em estado de repouso, e é preciso que esta indignação seja instigada a se manifestar.
Assim sendo podemos afirmar, que, ou a sociedade acorda e resolve se unir e fazer frente ao uso indevido de drogas, ou esta sociedade num futuro muito próximo irá soçobrar dominada pelo uso desenfreado e deletério destas substâncias.
Texto extraído do livro: Drogas – Problema Meu e Seu, de autoria deste colunista.
Deusimar W Guedes
Psicólogo e Advogado
E-mail:contato@deusimarguedes.com.br



O QUE LEVA OS JOVENS ÀS DROGAS

É impossível enumerarmos com segurança quais são os fatores que levam alguém às drogas. É certo que tal fato está relacionado a problemas sociais, familiares, educacionais, culturais, etc, aos quais se encontra exposta a nossa sociedade. Certamente, as condições de vida nas “Favelas”, o acesso fácil às drogas, a falta de empregos e consequentemente de perspectivas no futuro, o crime organizado, a impunidade, entre outros, são fatores que contribuem para este problema.
Outro aspecto a ser considerado é que os seres humanos sempre tentaram modificar o humor, as percepções e sensações por meio de substâncias psicoativas, com finalidades várias, como: religiosas, culturais, curativas, relaxantes ou, simplesmente, prazerosas.
Alicerçados nas inúmeras entrevistas que sempre fazemos com jovens envolvidos com o uso indevido de drogas, dois fatores são muito citados por estes, como sendo impulsionadores para o ingresso nas drogas, quais sejam: a influencia dos amigos e a fácil disponibilidade destas substâncias.
Lembramos ainda, que a transição da infância para a idade adulta é raramente suave, e muitas pessoas não se sentem emocionalmente preparadas para enfrentar os problemas com que se deparam. Some-se a isto o fato de que na puberdade e nos primeiros anos da adolescência, há um afrouxamento dos laços familiares, uma diminuição da autoridade paterna, uma crescente responsabilidade e um amadurecimento sexual. Com isto, o adolescente, assediado por ansiedades, frustrações, medo de fracassos, conflitos e dúvidas internas, pode buscar refúgio, por vezes, nestas substâncias.
Outro aspecto a considerar é a aceitação e até o incentivo que a sociedade ocidental, principalmente, promove das drogas legalizadas, como o Álcool e o Tabaco. Esta tolerância tem sido uma mola propulsora para o envolvimento de muitos jovens com as mesmas e, conseqüentemente, com outras substâncias psicoativas. Infelizmente, somos uma sociedade regada ao Álcool; para qualquer comemoração as bebidas alcoólicas sempre estão presentes: no nascimento do bebê, no batizado, nos aniversários, nos casamentos, nas vitórias da vida pessoal e até nas festas religiosas. Além destas, aquelas drogas de uso terapêutico, como os Calmantes, Antidepressivos, Moderadores de Apetite, Analgésicos, etc, são também usados abusivamente por pais e mães, que passam com isto uma mensagem negativa para os filhos, que aprendem, desde muito cedo, a recorrer sempre a uma droga quando acometidos de alguma contrariedade, como uma pequena dor, um momento de angústia, ou uma tristeza qualquer.
Assim, problemas comuns a todo ser humano, como: tristeza, descontentamento, solidão etc, passam a ser vistos como situações a serem eliminadas com o consumo de substâncias. Desta forma, podemos afirmar que, o modelo social consumista reinante na sociedade contemporânea, é tão nocivo quanto o próprio poder devastador das drogas.
Deusimar Wanderley Guedes
Psicólogo e advogado
deusimar.dwg@dpf.gov.br

2 comentários:

  1. Muito bom seu texto irei utilizá-lo em sala de aula, sim.

    Parabéns pelo trabalho.

    Emmanuel.

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  2. gostei desse texto e otimo

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