Crisvalter Medeiros
A pesquisadora Sibele Faller, do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas (CPAD) do Hospital de Clínicas, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, disse que quando há um trabalho integrado em rede dos serviços de abordagem ao dependente químico, diminui o número de casos que precisam de internação compulsória.
A internação compulsória só será necessária se houver falha nas articulações da rede de atenção voltada à saúde desse usuário. Quanto mais cedo o problema do uso de drogas for identificado, o que pode ser feito através do gerenciamento de casos associado à entrevista motivacional, as possibilidades de um tratamento eficaz serão maiores, alertou.
Sibele também se reportou à questão da marcha da maconha e do movimento pró legalização dessa substância.
- Eu não tenho como me posicionar a favor ou contra a legalização da maconha, mas acho que as pessoas tem liberdade de dizer o que pensam, se são favoráveis ou não a legalização, disse Sibele, acrescentanto que: “Esse terreno é perigoso porque é difícil mudar o status legal de um droga se a gente não sabe quais serão as consequências para a sociedade. No Brasi, não há pesquisas sobre isso, as informações se baseiam em experiência de outros países, não temos como ter certeza que a situação aqui será idêntica a desses países”, alertou.
Faller afirmou que as experiências científicas demonstram que o aumento da disponibilidade de uma droga resulta em maior número de usuários, consequentemente mais problemas sociais e mais dependência; "no entanto, para quem já é usuário pode até diminuir o mal estar de se relacionar com uma substância ilícita, diminuindo os riscos pela exposição à violência", reconheceu.
Por outro lado, a sociedade brasileira não está preparada para enfrentar a legalização de mais uma droga, no caso a maconha. É preciso discutir muito essa questão e usar dados científicos sobre evidências de uso dessa substância para embasar qualquer decisão política. “O resultado imediato da legalização é que teremos de enfrentar mais problemas, além daqueles que já temos com as drogas lícitas”, assinalou.
Sibele Faller, que deu aulas sobre abordagens terapêuticas no Centro Regional de Referência (CRR-IFPB) no final da semana passada (25/26) também se reportou sobre uma possível epidemia de uso de crack no País.
Segundo ela, a celeuma sobre a epidemia de uso de crack é baseada em informações veiculadas pela mídia. “Alguns profissionais reconhecem a epidemia e outros não”, ponderou.
- A UFRGS não tem dados científicos sobre o uso de crack, os milhões de brasileiros usuários dessa droga parecem ser uma criação da mídia, disse ela, acrescentando que: “A Senad encomendou um estudo epidemiológico à Fiocruz para mapear o número e a localização dos usuários, coordenado pelo pesquisador Francisco Bastos, a partir dos resultados, que deverão ser conhecidos só em 2012, poderemos ter uma verdade científica sobre essa propalada epidemia de uso de crack no Brasil”, explicou
Nós do CPAD, continuou, trabalhamos com a pesquisa no sentido de buscar formas mais eficientes para o tratamento que vá mais além de uma simples intervenção básica.
Aprofundando sua análise sobre o crack, Sibele explicou que essa substância, quando fumada, atinge rapidamente a corrente sanguínea e, em seguida, o sistema nervoso central, promovendo um efeito quase imediato à inalação. “Com a mesma rapidez esse efeito, que dura só alguns segundos, vai cessar gerando a necessidade de repetir a dose incessantemente; são essas características da substância que aumentam seu potencial dependógeno, o que também é inerente às condições do usuário”, detalhou.
Com relação ao tratamento do uso e dependência de drogas, de uma forma geral, Faller disse que as ações não devem ser focadas em um único modelo terapêutico. Segundo a pesquisadora, não existe medicamento para cessar o uso de drogas, o profissional pode prescrever um remédio para diminuir a ansiedade ou a depressão, mas nada que faça interromper o uso.
Sibele é adepta do modelo psicossocial como intervenção para o usuário de drogas. Segundo ela, esse modelo exige uma estrutura integrada da rede de serviços para garantir que o usuário se sinta acolhido em todas as áreas da sua vida que estão precarizadas, e não foca apenas no uso da droga.
“Só através de uma intervenção articulada em rede é que poderemos atender às necessidades de emprego, reestruturação familiar, desenvolvimento educacional e cultural; apoio financeiro e, principalmente, sobre as questões de ordem legal já que os usuários de drogas ilícitas sempre se expõem a situações de risco e acabam se envolvendo facilmente com o crime”, destacou.
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