sábado, 18 de setembro de 2010

DEFENDER O DIREITO HUMANO É PRIORIZAR A MELHOR SAÚDE POSSÍVEL: INTEGRAÇÃO E ÉTICA


Gilberto Lúcio*

Esta semana recebemos a notícia de que o Brasil foi excluído de uma lista de países considerados grandes produtores ou plataformas de tráfico de drogas, embora ainda tenha recebido a recomendação de priorizar a luta contra o narcotráfico. Vizinhos muito próximos, como a Bolívia e a Venezuela permanecem descumprindo de maneira demonstrável os compromissos internacionais de controlar a produção e a oferta de drogas ilícitas. No último dia 14, por exemplo, uma tonelada de cocaína produzida na Bolívia foi apreendida no Rio Grande do Sul.

O que isto tem a ver com prevenção? Tudo. Sem o necessário controle, a população brasileira continua exposta ao avesso do paradoxo preventivo, onde a maior exposição social ao contato com qualquer substância entorpecente possibilita o risco da experimentação por crianças e adolescentes, acarrentando o aumento dos casos de uso abusivo ou dependente.

É facilmente constatável, que o uso indevido de substâncias psicoativas tomou proporção de grave problema de saúde pública no país. Estimativas que passam longe das reais estatísticas que compõem a epidemia de crack no Brasil apontam para a existência de mais de 1,2 milhão de dependentes no País. Esta constatação impacta não apenas na saúde, mas reflete em outros setores da sociedade pela relação comprovada de tal uso com os agravos sociais dele decorrentes.

A Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas – ABEAD tem procurado ampliar o debate regional sobre políticas de prevenção e tratamento do uso, abuso e dependência de drogas. Em Recife, nos dias 09 e 10 de setembro, tratamos das bases científicas para a adoção de políticas públicas, dos modelos de atenção que revelam efetividade, da estruturação da rede de atenção municipal. Em João Pessoa, nos dia 03 a 05 de novembro, o tema central escolhido para a I Jornada da ABEAD na Paraíba, "A Atuação do Profissional no Campo da Drogadição: Valores Éticos e Direitos Humanos" acrescenta um importante elemento ao colocar o foco na integração e na intersetorialidade, que pode em muito contribuir para a adoção de políticas públicas que adotem um modelo de efetividade PRECONIZADO, inclusive, pela Organização Mundial de Saúde. Substituindo discursos aparentemente bem intencionados, mas que podem encobrir despreparo ou indiferença quanto aos resultados de certos procedimentos, esta contribuição pode reforçar o princípio de que todo paciente tem direito ao melhor tratamento condizente com suas necessidades, afirmando que valores éticos e humanizadores são aqueles que têm por objetivo o alcance do mais alto grau de saúde para a população, e não apenas o nivelamento por baixo dos discursos e das práticas. Ainda mais que, se mal utilizadas, as já precárias verbas públicas podem acarretar maior prejuízo para a população ao invés de apresentar soluções.

A Jornada paraibana tem a característica de contemplar desde o aporte cada vez mais consolidado das intervenções preventivas e terapêuticas comunitárias, das universidades e da pesquisa científica, até a indispensável interlocução entre diferentes atores e setores da sociedade. E é esta idéia de integração que marca os primeiros passos para o grande evento da ABEAD em nossa região no próximo ano, o XXI Congresso Brasileiro, marcado para o período de 08 a 11 de setembro de 2010, em Recife, Pernambuco.

*Psicólogo do Ministério Público do Estado do Pernambuco
2º Vice Presidente da ABEAD - Associação Brasileira de Estudos sobre o Álcool e Drogas

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