quarta-feira, 24 de março de 2010

CÂMARA MUNICIPAL QUER SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA DO CRACK EM JOÃO PESSOA


A Câmara Municipal de João Pessoa realizou ontem (24), uma Sessão Especial para debater o problema do uso de crack no município. O vereador Geraldo Amorim, propositor da sessão, revelou que tem recebido denúncias de que existem crianças de sete e oito anos de idade que são dependentes de crack. “A situação torna-se mais grave porque falta assistência emergencial para atender a esses dependentes químicos”, lamentou o vereador.

Segundo Geraldo, o uso de crack está aumentando porque essa droga tem um poder fulminante de criar dependência, sendo mais rentável para os traficantes. Na fissura, os jovens usam até 10 pedras de crack em uma noite. O parlamentar disse que o Ministério Público Estadual faz uma condenação por crime relacionado ao tráfico de drogas a cada 15 horas; a cada 4 horas recebe uma denúncia, e registra uma morte a cada 36 horas no Estado da Paraíba, em decorrência da violência provocada pelas drogas.


O PROBLEMA DO CRACK ESTÁ SENDO DISCUTIDO EM ÂMBITO NACIONAL 


O Secretário de Segurança Pública do Estado da Paraíba, Gustavo Gominho, informou que 80% dos homicídios que acontecem na maioria dos Estados brasileiros são decorrentes do tráfico de drogas. Os jovens estão sendo mortos por dívidas de cinco reais, disse o secretário. A autoridade afirmou que está sendo articulado em âmbito nacional um plano para combater o problema do crack.

O secretário explicou que, por ser um subproduto da cocaína, a toxidade do crack é tão forte que torna a substância inflamável. Ele acrescentou que a abstinência e a fissura após passar o efeito são tão intensos que fazem com que os jovens cometam outros crimes para comprarem a substância. “O uso do crack gera crime contra a saúde pública, homicídios e crimes contra o patrimônio público” assinalou.



O Arcebispo da Arquidiocese da Paraíba, Dom Aldo Pagotto, que também participou da sessão especial da Câmara Municipal, afirmou que a droga é um problema de saúde e de segurança pública. Segundo ele, o crack é uma desgraça que destrói o ser humano, a família e a sociedade, independe de contextos sociais. Dom Aldo lamentou que o Estado institucionalizado não esteja conseguindo evitar o avanço do estado paralelo do narcotráfico que produz violência, marginalidade, isolamento e destruição na sociedade.

PROFESSORA VANIA: MODELO DO MEDO PARALISA AÇÕES

 
A professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), professora Vania Medeiros, fez uma explanação sobre a representação social do crack. Segundo a professora, a sociedade está paralisada pelo pânico que se criou em torno do problema.

Vania, que coordena o Laboratório de Estudos Transdisciplinares sobre Dependência Química (NETDEQ) no IFPB, explicou que a sociedade tem dificuldades em fazer o diagnóstico real dos problema relacionados ao uso dessas substâncias, para poder desenvolver ações efetivas de prevenção, tratamento e recuperação. A professora esclareceu que quanto maior o medo, maior a paralisação no sentido de encontrar as soluções adequadas ao problema.

A professora Vania defende que ao invés do medo das drogas, a sociedade começe a ter mais consciência sobre os problemas que geram o uso da droga. Para ela, o modelo do medo gera dependência e agressividade, sendo necessário conhecer a questão do ponto de vista científico para adotar soluções adequadas. “Os pais, os educadores e muitos profissionais reagem com pavor quando descobrem que o jovem é usuário de drogas, seja filho, aluno ou paciente.

O modelo do pânico deve ser substituído pelo modelo da educação. O papel da educação é promover mudanças e, neste sentido, todos podem ser educadores. A professora afirma que as pesquisas demonstram que 30% dos dependentes de crack conseguem se recuperar. “Portanto, é esse o discurso que devemos adotar no lugar de dizer que a dependência do crack não tem cura”, assinalou ela.

A representação social do medo enfraquece as ações de prevenção e recuperação do dependente químico, disse a professora. Ela explicou que é preciso conhecer os mitos que permeiam o discurso sobre as drogas na sociedade. “Os surtos de perda de controle do uso de drogas são cíclicos e acontecem quando há um forte mal-estar na sociedade; atualmente estamos vivenciando um surto do uso dessas substâncias, mas é preciso ter esperança que ele vai passar e que este é um momento importante para reconstrução da coletividade e dos valores comunitários”, enfatizou.

A vice-presidente do Conselho Municipal Antidrogas (COMAD), psicóloga Rizonete Gomes, também reconheceu que o medo tem paralisado as ações da sociedade relacionadas às drogas. Segundo ela, os pais não se sentem envolvidos na co-responsabilidade quando descobrem que o filho é usuário de drogas. Rizonete lembrou que é preciso estimular a pesquisa científica local sobre o problema, tornar a escola mais atraente e adotar métodos adequados de prevenção, recuperação e reinserção social.


 



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